O Governo e o Ministério da Educação estão a revelar, mais uma vez, a impreparação e irresponsabilidade que já tinham demonstrado há um ano atrás, em Março de 2020, quando as escolas tiveram que fechar, na sequência dos efeitos nefastos que a Pandemia já provocava.
A pandemia veio sublinhar e/ou agravar as desigualdades de recursos e suporte familiar dos alunos nos seus contextos familiares e, nalguns casos, essas desigualdades acentuaram-se perigosamente. Como seria de esperar, foram os alunos que estão inseridos em contextos socioeconómicos mais desfavoráveis os mais afetados.
Existem em todo o país cerca de dois milhões de trabalhadores em layoff ou no desemprego. Muitos pais vivem situações dramáticas, não podendo dar o apoio necessário e adequado aos seus filhos. Muitas crianças e jovens ficaram sem acesso a meios de aprendizagem à distância, pelo que não se garantiu a igualdade de oportunidades e o direito à educação para todos.
Os trabalhadores do distrito de Setúbal vivem estes problemas de forma muito aguda e os dados são muito claros pois mostram uma realidade que a Pandemia veio desnudar e agravar ainda mais.
Entre março de 2020 e Janeiro de 2021, a taxa de desemprego no distrito cresceu 38.55%, numa região que já tem valores superiores aos da média nacional na percentagem da população que beneficia do subsídio de desemprego e do rendimento social de inserção.
Setúbal é também o distrito que tem nos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico, as mais elevadas taxas de retenção (repetências) de alunos do país e também uma das mais elevadas taxas de abandono escolar.
Este é o panorama de um distrito marcado por profundos problemas socioeconómicos no qual vive 8,7% do total da população estudantil do país. Ficará, pois, particularmente marcado por todas as sequelas provocadas pelo fecho das escolas, nomeadamente pelas implicações que todo este processo deixará em milhares de alunos, os mais frágeis e os mais desprotegidos.
O Governo, continuando no caminho de desvalorização da Escola Pública, nem garantiu as condições essenciais para o ensino presencial, nem quis fazer o investimento necessário para dotar as escolas de ferramentas digitais, imprescindíveis ao ensino à distância. Não se preparou para a eventualidade de um novo fecho das escolas, mesmo quando alertado pelos especialistas e não tomou as medidas necessárias para que a Escola Pública desse a resposta aos que mais dela necessitam.
É preciso mais e melhor escola pública com capacidade para que não se impugne o nosso futuro.