A União dos Sindicatos de Setúbal/CGTP-IN, recorda e saúda a luta de 3 de Maio de 1970 no Barreiro e todos os acontecimentos da luta Antifascista que tiveram lugar em 1970 no Barreiro.
Nas eleições fantoche de 1969, Marcelo Caetano e Américo Tomás com todo o aparelho fascista de Salazar ainda intacto, (tendo como peças principais de repressão a PIDE/DGS, a GNR, a PSP e os Legionários), tentaram passa a falsa ideia de uma abertura democrática de regime fascista. A falsa e pretensa “primavera marcelista”, permitindo que Listas de Cidadãos pudessem concorrer às eleições de deputados para a Assembleia Nacional.
Procurando forçar a legalização da oposição, os democratas, com o apoio militante dos membros do PCP, aproveitaram a oportunidade para organizarem nos vários distritos e alguns concelhos, Comissões Democráticas Eleitorais (as CDEs). A primeira tarefa foi motivar e mobilizar as populações a inscreverem-se nos cadernos eleitorais, o que foi feito com grande empenho e entusiasmo dos ativistas.
Depois foi reforçar a organização das CDEs concelhias e a coordenação distrital para a formação das listas e para as acções de propaganda, comícios, documentos de propaganda, caravanas no Distrito e por último vigiar os locais de voto para que os cidadãos não tivessem receio de votar na CDE por causa da presença dos agentes da PIDE e seus Bufos.
Como represália aos optimos resultados eleitorais obtidos pela CDE no Distrito de Setúbal, naquelas eleições fantoche, os democratas do Barreiro e do Distrito foram “marcados” pelo aparelho fascista e pela PIDE/DGS, e após a realização da grande manifestação do 1º de Maio de 1970 e do confronto daí resultante na Baixa da Banheira, junto ao cemitério, entre a GNR a cavalo à espadeirada e os manifestantes à pedrada, a PIDE/DGS prendeu na madrugada do dia 2 de Maio oito democratas da CDE do Distrito de Setúbal, dois do Barreiro, dois da Moita e quatro de Setúbal: Álvaro Monteiro, Alfredo de Matos, Staline Rodrigues, Leonel Coelho, Zacarias Fernandes, Fernando Tavares, António Lopes e Carlos Santos Lopes.
Nessa mesma noite foram feitas as tarjetas, informando sobre as prisões e convocando a população do Barreiro e da Moita, para uma manifestação de protesto contra as detenções realizadas pela PIDE. Essas tarjetas foram feitas na máquina duplicadora da Cooperativa Popular, na sua velha sede, por um dirigente da cooperativa, militante do PCP. A entrega dos documentos aos ativistas das empresas, na CP e outras e aos jovens do MJT-Movimento da juventude trabalhadora, foi feita logo na manhã do dia 3 de Maio que de imediato fizeram a distribuição nas empresas e na rua às pessoas e aos condutores de carros que passavam.
A concentração realizou-se à tarde junto ao Mercado do Barreiro e dirigiu-se aos Paços do Concelho para exigir ao Presidente da Câmara a libertação dos democratas da CDE, presos no dia anterior. Não sendo possível falar com o Dr. França (o Pr. da CMB), quer ali quer na sua residência na Rua Miguel Bombarda, a manifestação seguiu pela então Rua Brás (hoje Pacheco Nobre) ignorando que no cruzamento com a Rua José Augusto Pimenta tinham à sua espera, para lhes cortar a passagem, uma força policial da GNR em jipes, a cavalo e a pé armados com bastões e espadas. Logo ali houve perseguições, agressões à bastonada e detenção de jovens. Mas os mais jovens manifestantes continuaram pela Rua Brás até ao Largo da Santa, (hoje, Largo 3 de Maio, a lembrar aquele dia de luta contra o fascismo) sempre com GNRs a cavalo em sua perseguição. Chegados ao Largo e mais protegidos pelo urbanismo deste local, os jovens ripostaram à pedrada ao ataque da GNR que chegaram a entrar com cavalos dentro do Café da Pilar (aquele da esquina) agredindo os clientes.
Cinco jovens de cerca de 17/20 anos e dois menos jovens foram presos e entregues à PIDE/DGS para interrogatórios, foram eles: Maria de Jesus Serrano Pelengano, com 17 anos, Carlos Alberto Godinho, Francisco Vieira Pinheiro, Vítor Manuel Santos Lopes, Bento Gonçalves Serrano, Fernando do Carmo Libório e José Jordão. Os dois últimos (menos jovens) foram presos no dia seguinte.
Com esta luta e muitas outras que se seguiram pelo País, como o 1º de Maio de 1971, o regime da ditadura ficou desmascarado a nível interno e no Estrangeiro, contribuindo também para a consciencialização democrática dos Portugueses e das Forças Armadas.
Evocar o dia 3 de Maio é lembrar a resistência antifascista e dar a conhecer às futuras gerações o que foi e como se comporta o fascismo, só olhando para as lutas do passado pudemos agir no presente, para projectar um futuro com mais progresso e justiça social para todos.
Viva a Liberdade.
A Luta Continua